quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Entrevista: Hilton Alves e a SUP Arte


Praticante de Stand Up Paddle desde os tempos em que os supistas faziam seus próprios remos, o artista plástico Hilton Alves é hoje referência mundial quando o assunto é SUP Arte. Este santista que adotou a praia do Tombo, no Guarujá, como seu “homebreak”, vive no Hawaii desde 2007 e vem consolidando uma respeitável carreira, desenvolvendo trabalhos artísticos para a importantes marcas como a C4 Waterman, Da Hui, Go Nuts, entre outras, além de murais gigantescos em escolas havaianas onde desenvolve trabalhos educativos com crianças. Atleta com bons resultados em provas internacionais de SUP Race, Hilton também manda bem no SUP Surf e participará de etapas do mundial de SUP Surf, o Stand Up World Tour, circuito no qual já conquistou uma importante vitória para o Brasil: é o responsável pela ilustração dos cartazes de todas as etapas em 2011.

Dawn Patrol - Arte Hilton Alves
Hilton consegue como poucos reproduzir e eternizar paisagens e momentos de rara beleza proporcionados pelo contato com o mar que habitam a memória de quem pratica ou admira esportes como SUP, mergulho ou surf. Conheça um pouco de sua história na entrevista a seguir.

SUPCLUB - Quem surgiu primeiro: o artista ou o surfista? Como foi o seu início no surf e nas artes?

Hilton - Bom, se contarmos os desenhos, creio que o artista veio primeiro. Pois desenho desde meus três anos, pelo que lembro. Já o surfista foi quando eu tinha 10 anos de idade. Morava no Guarujá e iniciei no esporte junto com meu irmão Wallace surfando com pranchas de isopor. A arte em telas veio dez anos depois, no ano de 2000. Dai em diante nunca mais parei, hoje brinco dizendo que foi “amor a primeira tinta” (risos).



SUPCLUB - Você fez alguma escola de artes, teve algum professor ou é autodidata?

Hilton - Sou autodidata, mas todos nos na vida temos professores né? Direta e indiretamente. Meu pai foi o maior professor de todos, ele não pintava, mas me ensinou a nunca desistir de sonhar e arte tem tudo a ver com sonhos, ideias, etc. Mas ao longo dos anos tive e tenho grandes amigos que me ajudaram de alguma forma a evoluir como artista e pessoa.

SUPCLUB - O teu trabalho como artista recebe influência de outros artistas? Quem são os pintores que você mais admira?

Hilton - Quando comecei a pintar, em 2000, não tive nenhuma influência. Aliás, surfista pintando na época não existia quase no Brasil. O que me influenciou foi o mar mesmo, as minhas experiências na água, minha visão, etc. A partir de 2004 que comecei a me espelhar mais em outros artistas e o que mais me identifico é o Wyland, artista que pintou os maiores murais do mundo retratando a vida marinha e usa a arte para fazer a diferença na vida das crianças e pessoas mundo afora. Este é um dos meus objetivos também, por isso me identifico com ele.

O belíssimo Kahuku Mural feito por Hilton no Hawaii.  
SUPCLUB - Como funciona o seu processo de criação? Quando você vê uma tela em branco você já sabe exatamente o que pintar ou os desenhos vão fluindo?

Hilton - Eu vivo de ideias e ideias são muitas. Às vezes uma conversa, uma experiência, uma foto, etc., faz com que eu visualize uma pintura. Mas geralmente quando vejo uma parede em branco, tela, ou a superficie que for, eu consigo visualizar algo ou me visualizo já assinando meu nome como estivesse finalizando a arte. É difícil de explicar, até eu mesmo às vezes acho que em certas pinturas não fui eu que pintei. Tipo alguém usou minha mão para pintar aquilo, sei lá. Quando termino a arte eu paro e pergunto: fui eu mesmo que fiz isso? Sempre tem algo que prefiro não entender em relação ao meu talento.


Waterman Family - Arte Hilton Alves
SUPCLUB - Como foi o inicio no Hawaii? Como surgiram os primeiros convites para trabalhos? 

Hilton - Eu cheguei aqui em agosto de 2007 e fui apresentado ao Eddie Rothman, dono da Da Hui. A partir de 2008 eu comecei um relacionamento forte com a comunidade havaiana, na qual desenvolvo murais nas escolas e ensino a molecada um pouco da minha arte. Tive total apoio do Eddie em relação a isso. Até morei na casa da Da Hui por 6 meses e isso ajudou a abrir as portas aqui em Oahu. Desde então fiz trabalhos para a C4 Waterman, Da Hui, Go Nuts, entre outros.


SUPCLUB - Tem algum trabalho seu que você queria comentar, algo que te marcou, no Hawaii ou no Brasil?

Hilton - Eu poderia citar os murais que faço por aqui no Hawaii, em especial o de Laie Elementary School (veja o vídeo no final da matéria). Nesta escola, a molecada me tratou como “rock star” e foram mais de 600 crianças pintando comigo, fora a bagunça que fiz com eles lá (risos). Foram momentos inesquecíveis com a criançada, me diverti bastante. Tiramos fotos, fiz tatuagens, desenhos, etc. E é isso que conta na vida, os bons momentos e com certeza este é um deles.


“era todo dia cinco, seis horas na água... se você quisesse me encontrar era só olhar para o outside”

Foto de 2006: remo feito por ele e prancha adaptada
SUPCLUB - Indo pro SUP... Como é que está a cena do SUP ai no Hawaii? O esporte segue crescendo?

Hilton - O esporte cresce em número de praticantes a cada ano que passa e sempre surgem novidades em questão a design, etc. A evolução não para.


SUPCLUB - Você foi um dos pioneiros do SUP no litoral de São Paulo, como foi seu primeiro contato com o esporte? Quem remava na época? 

Hilton - Eu comecei a remar em 2006 com um pranchão do meu amigo Fabio Boturão, o Jacui. Fiz meu remo e, como só eu conseguia o milagre de ficar de pé e remar, ele liberou para eu usá-la e ai não parei mais. Na época, só o Haroldo Ambrosio e o Jorge Pacelli faziam o esporte e mesmo assim de vez em quando. No meu caso era todo dia e mais de cinco, seis horas na água, isso na praia do Tombo, no Guarujá. Dai veio o shaper Luiz Juquinha, que inclusive está shapeando como ninguém. Eu comprava paçoca e colocava no bolso e só saia para beber água e voltava pro mar, podia fazer sol, chuva, frio, etc., se você quisesse me encontrar era só olhar para o outside (risos).



Remando na frente na SurfNSea, em Haleiwa: vitória na geral dedicada ao pai
SUPCLUB - Você também já participou de importantes provas de race, poderia comentar alguns resultados? Provas que mais gostou de participar?

Hilton - Desde 2007 eu participo de competições aqui no Hawaii, sempre chegava em 2º, 3º, etc. Ganhar era complicado. Em março de 2010, estava no Guarujá, pois meu pai tava doente e ele brincou dizendo por que eu não ganhava todas as races e alguns dias depois ele faleceu. Depois disso, a primeira competição que teve quando cheguei no Hawaii foi a ‘Surf'n Sea SUP into Summer’, em Haleiwa, e eu disse pra mim mesmo que ninguém iria ganhar de mim naquele dia, pois gostaria de dedicar isso ao meu pai e no final eu ganhei no geral usando uma soft-top 12'. Nos dois finais de semana seguintes eu repeti o feito, vencendo o ‘Summer Solstice’ e ‘Battle of the Paddle’ na mesma categoria. Não quis provar nada a ninguém. O meu único desejo era fazer meu pai feliz seja onde ele estiver e deu certo.


Primeiro lugar em sua categoria na Battle of the Paddle
SUPCLUB - que conselho você dá para quem está pensando em levar um SUP para fazer uma trip pro Hawaii?

Hilton - Bom, as pranchas feitas no Brasil são as melhores que já vi ate agora, isso iria fazer a diferença. Mas aqui também podemos encontrar todo tipo de pranchas e remos. O que importa é se divertir, o Hawaii é o paraíso.



SUPCLUB - Para finalizar: se alguém deseja encomendar uma obra tua, onde pode encontrar? 

Hilton - As pessoas podem entrar em contato comigo via email ( hilton@theartofhilton.com ) ou visitando nossa pagina do Facebook ( http://www.facebook.com/HiltonAlves ). Também é possível comprar online através do site www.store.theartofhilton.com. Para quem gosta de Stand Up Paddle, este ano estarei lançando novas SUP Artes também.


E eu gostaria de agradecer pela oportunidade e dizer que foi um prazer dar esta entrevista ao SUPCLUB. Aloha! 

.+ Informação  Confira abaixo um vídeo muito interessante sobre o trabalho que Hilton vem desenvolvendo com crianças nas escolas do Hawaii:




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