terça-feira, 5 de abril de 2011

SUP & Surf: pela harmonia no outside Parte I

Estátua em homenagem ao surf depredada em protesto contra o SUP. Foto: surf.transworld.net

A Califórnia, um dos epicentros do surf mundial e também um dos lugares com o maior número de surfistas no mundo, foi um dos primeiros lugares a testemunhar o surgimento e o crescimento do SUP. É lá que hoje, em algumas praias, a convivência entre surfistas tradicionais e SUP Surfistas tornou-se bastante tensa, com direito a campanhas difamatórias e pichações contra o SUP. Relações tensas, mas em menor escala, também tem ocorrido em outros países como a Austrália, onde não existem campanhas declaradas contra o SUP Surf, mas há bastante animosidade.

Não é novidade que grande parte dos surfistas tradicionais não gosta de dividir o lineup com outras modalidades de surf e rivalidades sempre existiram. Foi assim com o bodyboard e com o longboard, por exemplo. A diferença é que no caso do SUP, há realmente um grande risco à integridade física daqueles que estão no mar e a falta de bom senso de alguns praticantes de SUP acaba por denegrir a imagem do esporte que agora divide com o surf a "paternidade" de todos os boardsports. Por outro lado, o mundo hoje não é como há vinte anos. Populações crescem de maneira exponencial e é natural que isso se reflita no outside. Surfar com poucas pessoas na água depende cada vez mais de sorte do que de logística. É necessário, portanto, que o exercício da tolerância seja exercido por todos, ainda que não se possa confundir tolerância com passividade. E muito menos com falta de respeito.

Lesley Lambert. Foto reprodução goldcoast.com
Os surfistas reclamam principalmente da falta de experiência dos supistas, que sem entender as regras de etiqueta do surf colocam todos em risco no mar por conta do tamanho de suas pranchas. De fato, o rápido crescimento do SUP Surf associado à falta de informação sobre regras básicas no mar àqueles que pela primeira vez experimentaram o prazer de se surfar uma onda, auxiliados pelo SUP, tomou de assalto o mundo do surf. De uma hora para outra, centenas de picos já bastante crowdeados passaram a receber também um grande número de supistas. Muitos deles, sem a menor experiência anterior em esportes com prancha, passaram a disputar ondas em lineups já bastante tumultuados. O resultado não poderia ser muito bom e acidentes envolvendo surfistas e banhistas atropelados por SUP’s, rabeadas perigosas e muito estresse, acabaram por criar uma animosidade entre surfistas e supistas em vários picos. Até mesmo praticantes de outras modalidades, como o kayaksurf, se manifestaram contrários à prática desordenada do SUP Surf em picos de surf. A canoísta australiana Lesley Lambert passou por um grande perrengue ao ser atropelada por um supista em Currumbin Alley, litoral da Austrália. Lesley foi violentamente atingida na cabeça por uma prancha de sup ficando quase inconsciente na água. Para sua surpresa, o supista, que em sua interpretação era alguém sem a menor experiência de mar, nada fez para ajudá-la: “Eu estava tentando desviar, mas ele continuou vindo em minha direção e me atropelou. Sua prancha atingiu minha cabeça. Fiquei bastante atordoada e gritei dizendo que meu remo havia quebrado, mas ele olhou para mim, pulou sobre sua prancha e remou para longe. Fiquei chocada!”, disse em depoimento ao site australiano goldcoast.au concluindo que não era contra o SUP, mas sim, contra a falta de noção de alguns praticantes de SUP.

Fatos como esse levaram um grupo de surfistas da califórnia a entrar com uma petição exigindo a proibição do SUP Surf em uma série de praias dos EUA sob a alegação de que se tratavam de embarcações e não pranchas, o que pela lei norte-americana proibiria a permanência de SUP’s no lineup. Entretanto, tal petição foi rejeitada pela Guarda Costeira que emitiu parecer no início do ano confirmando seu entendimento de que se tratavam de pranchas e não embarcações.

Blame Laird

Laird Hamilton: mestre também no marketing
Além da petição, há grupos que preferem o caminho da difamação. Distribuição de adesivos e pichações ridicularizando praticantes de SUP, são ações que, apesar de isoladas e não adotadas por todos, existem. Talvez a campanha difamatória mais conhecida tenha sido a “Blame Laird” (culpe o Laird) com a farta distribuição de cartazes e adesivos com a frase, com a intenção de criticar Laird Hamilton por divulgar o esporte e ironizar os praticantes de SUP. Mas aqui, novamente, a vitória foi dos supistas e o feitiço se virou contra o feiticeiro.

Hamilton, gênio do marketing, apropriou-se do nome e lançou uma série de produtos para SUP com a marca “Blame Laird”. O sucesso foi tão grande que ele criou até uma página na web para comercializar os produtos. Em entrevista a Marcus Sanders, no site Surfline.com, quando perguntado sobre a frase polêmica, disse de maneira bem humorada: “pode me culpar por toda a diversão que você está tendo com o SUP!”. Leia a entrevista aqui

E de fato ele está certo. É melhor que mais pessoas se divirtam interagindo com a natureza e aprendendo a respeitá-la do que enfurnadas em shopping centers levando um estilo de vida artificial baseado em consumo. Ainda que a prática do SUP Surf exija responsabilidade e bom senso.

No Brasil, onde o SUP Surf cresceu de maneira significativa a partir desse verão, as coisas tem transcorrido de maneira mais harmônica e, ainda que atritos ocorram, grande parte dos praticantes consegue surfar sem atrapalhar o crowd, procurando por espaços menos tumultuados. Muito se deve ao bom trabalho de várias escolinhas de surf, que rapidamente introduziram o SUP em suas grades orientando os novatos sobre as regras básicas de convivência no outside e também ao fato de que muitos surfistas respeitados como Rodrigo Resende, Picuruta Salazar, Neno Matos, Carlos Burle, entre outros, são adeptos do esporte, influenciando outros praticantes com suas atitudes.

Uma convivência harmônica é importante para o desenvolvimento do SUP no Brasil assim como é importante para o surf também. O SUP veio para ficar e se todos respeitarem as regras da boa convivência, não haverá motivos para estresse, pois o objetivo final, seja qual for o tipo de prancha que você use, é se divertir.

Na segunda parte dessa matéria você confere a cartilha SUP CLUB de etiqueta no SUP Surf. Em breve, no SUPCLUB.com.br! 

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