quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Stand Up Paddle em água doce - Parte I

Pouco a pouco, o SUP em água doce vai ganhando força. Foto: Ryan Guay


A força do Stand up Paddle é uma realidade. Seu crescimento segue de forma vertiginosa no mundo todo. Doug Palladini, presidente da SIMA - Surf Industry Manufacturers Association (associação norte-americana de fabricantes de pranchas e equipamentos de surf), declarou ao jornal Los Angeles Times, que o Stand Up Paddle está se tornando a maior força desse mercado e registros - ainda não oficiais - revelam que já se produzem mais pranchas de SUP do que de surfe.

Muito dessa força vem do fato de que, ao contrário do surfe tradicional, o SUP pode ser praticado sem ondas e, também, bem longe do mar. Rios e lagos estão se tornando cada vez mais atraentes para os praticantes de SUP, seja em busca de um passeio tranqüilo, seja em busca de adrenalina. 

O SUP em água doce é hoje nos EUA e em países da Europa, uma modalidade em franco crescimento. Dividido basicamente em duas categorias – águas calmas e corredeira -, já conta com associações e campeonatos nos EUA.


Charlie Macarthur. Foto: aspen.com
O norte-americano Charlie Macarthur é um dos criadores da modalidade. Ele descobriu o SUP em Fiji, durante uma viagem, em meados da década de 90, e ficou fascinado. Estava diante de uma atividade que combinava surfe e remo, seus esportes prediletos. 


Ao retornar para casa, resolveu aplicar o que vira em Fiji nos rios próximos de sua cidade, no interior dos EUA. Com um longboard 12’ e um remo adaptado, começou a descer corredeiras e remar em trechos mais calmos. Passou a fazer isso regularmente até que em 2000, quando o SUP começava a explodir no mundo com a revolução promovida por Laird, Dane e Cia, foi incentivado por um amigo a postar um vídeo seu, descendo uma corredeira, no You Tube. Pouco tempo depois, Todd Bradley, um dos donos da C4waterman, tradicional fabricante de pranchas e equipamentos de SUP, assistiu ao vídeo na web e entrou em contato com Charlie. A empatia foi imediata e ambos passaram a trabalhar juntos para produzir uma prancha específica para o SUP em corredeiras.

Mito do surfe, Gerry Lopez rema tranquilo no rio.  Foto: nytimes.com


As pranchas e equipamentos


C4 I SUP, um dos primeiros modelos de prancha inflável para corredeiras. Foto: c4waterman.com

Uma coisa que ficou clara para Charlie desde o começo foi o fato de que uma prancha para água doce precisaria de mais flutuação do que uma prancha para o oceano, pois a água doce tem menos densidade do que a água salgada. Em lagos e rios de águas calmas, uma prancha de SUP comum, feita para o mar, funcionava bem, mas a coisa mudava completamente de figura quando o assunto era descer uma corredeira de rio.

Quilhas menores e mais maleáveis
Corredeiras e rios rochosos tem como principal característica uma movimentação de água intensa (às vezes violentíssima) que gera ondas em várias direções e fortes correntezas. A profundidade muda a todo momento por conta das pedras e, por isso, quanto mais flutuação tiver a prancha, menor a incidência de impacto nas rochas e mais fácil a navegabilidade. Porém, os impactos seriam inevitáveis e a prancha precisaria ser resistente. A resposta veio inspirada nos botes infláveis de rafting e ambos desenvolveram uma prancha de SUP inflável, resistente a impactos e com ótima flutuação. As quilhas, outro problema, ficaram menores e mais maleáveis. A prancha recebeu o nome de “C-MAC ATB River Board” e logo passou a ser produzida em escala.

Rodrigo Resende desafia cachoeira em MT usando um SUP modelo 'soft'. Foto: globesporte.com
Hoje já existe uma série de modelos de pranchas infláveis desenvolvidas para rios rochosos - da própria C4 e de outras marcas. Além das infláveis, outros tipos de pranchas também foram desenvolvidos para descer corredeiras. Conhecidas como ‘softboard’, as pranchas são feitas com um material macio, similar ao das pranchas de bodyboard. É uma prancha com bastante flutuação e com grande capacidade de absorção de impacto. E já há um terceiro tipo de prancha ganhando destaque, que é um modelo híbrido entre um caiaque de plástico rotomoldado e um SUP. A prancha possui, inclusive, relevos anatômicos que permitem que o praticante reme sentado ou em pé.
A prancha híbrida entre caiaque e SUP feita de plástico rotomoldado.
Quanto aos remos, não há diferença em relação aos usados no mar, mas, em corredeiras, muitos preferem usar as pás de plástico por ser um material mais maleável e mais barato.


Colete salva-vidas. Obrigatório nos EUA
Além de prancha e remo, equipamentos de segurança são fundamentais quando se deseja descer um rio de corredeira a bordo de um SUP. A dinâmica da água nessas condições é bem diferente do que as do oceano e dependendo do percurso e volume das águas apresenta um alto grau de risco. As pedras que surgem a todo o momento são um risco inegável e por isso um capacete é item obrigatório. Mas elas não são o único perigo. Em regiões de queda d’agua, como barragens e cachoeiras, em dias de enxurrada e chuvas abundantes, a quantidade e força das águas aumentam muito e formam correntezas contrárias e redemoinhos que podem prender uma pessoa por um bom tempo em baixo da água. Daí a necessidade de se usar, também, um bom colete salva-vida para ajudá-lo a alcançar a superfície caso seja pego em uma situação dessas. Nos EUA há uma lei que obriga praticantes de SUP em corredeiras a vestir colete salva-vidas, capacete e a realizar algumas horas de um curso de primeiros socorros.

Duas fatalidades em 2010


Marcus Steininger e Nils Hornischer
A lei norte-americana pode parecer exagero mas não é. Em 02 de setembro de 2010, na Alemanha, Marcus Steininger e Nils Hornischer, dois supistas acostumados a descer as corredeiras do rio Mangfall, na região da Baviera, decidiram juntar-se depois do trabalho para descer o rio como já haviam feito muitas vezes. Marcus e Nils eram remadores experientes e estavam equipados com coletes salva-vidas e capacete. Havia chovido muito e as águas do rio estavam bastante violentas. Mesmo assim eles optaram por descer o rio.

Às 23h as famílias dos remadores, preocupadas com o desaparecimento de ambos, decidiram alertar as autoridades e uma grande operação de resgate, envolvendo mais de 200 bombeiros foi iniciada. Infelizmente, às 2h30 foram encontrados os corpos de Marcus e Nils e sem vida.

As circunstâncias de como eles se afogaram não ficaram inteiramente claras, mas as há duas hipóteses bem prováveis: a de que eles teriam ficado presos, com os leashs enrroscados em alguma pedra (leashs nesse tipo de atividade são mais curtos e devem ser presos no colete salva-vidas ao invés do calcanhar para evitar que se enrrosquem em um casacalho ou pedra) ou a de que tenham caído em um redemoinho potencializado pelo turbilhão de água de uma barragem nas proximidades, ficando por muito tempo submersos, perdendo a consciência antes de alcançar a rota de fuga.


Como escapar de correntes contrárias


                                                                                       Fonte: www.vcsar1.org


Primeiro, mantenha a calma e não desperdice energia e oxigênio brigando contra a corrente, que movimentará você para cima e para baixo, em círculos. Quando estiver em baixo, projete seu corpo para frente, usando a força da própria corrente. Dessa forma você será lançado, na horizontal, para fora do fluxo, no caminho conhecido como “rota de fuga”.

Clicando aqui você visualiza uma animação muito interessante sobre como agir caso você fique preso em um redemoinho gerado por uma barragem

As competições


Campeonato de River SUP. Foto: Toddy Patrick - whitewatersupchampionship.com


Já existem até campeonatos mundiais de SUP em rios e 2010 foi marcado por uma série de grandes eventos nos EUA. Um dos mais populares é o “Whitewater Stand Up Paddling Championship”, disputado em três modalidades: downriver race, que nada mais é do que uma prova de race descendo o rio, SUP cross - semelhante às etapas de SUP cross disputadas em praia - e até SUP surf, que é realizada em ondas que não saem do lugar, formadas pelo contato de elevações rochosas com fluxo intenso da água. Esse evento conta com uma webpage onde há farta informação e fotos de ação de stand up paddle (clique aqui)


Na parte II dessa série você confere o panorama atual do SUP em água doce no Brasil. Aguarde, aqui em SUPCLUB.com.br!


Agradecimentos especiais a Todd Bradley  (C4waterman), Charlie Macarthur e Paul Tefft (riversup.com).
 

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